Vocês sabem que o espelho é o divã da gordinha, né? rs Pois é. Mas quando você resolve fazer um blog, meter as caras, achar pessoas como você, ir junto enfrentar seus medos, as coisas que você acha difíceis, o espelho fica meio de lado porque começa um bate-papo. Não é mais tão solitário. Fica espelho.net. Então eu vou contar uma coisa pra vocês, algo que me dei conta depois de fazer comentários enormes nos blogs de duas novas amigas -- a
Tati e a
Aline. :)
Contei que já emagreci 20kg e ninguém notou. Se notaram, ninguém falou nada. Isso foi no meu último regime, alguns anos atrás. Cheguei aos 96kg, nunca havia estado tão gorda. Fazia milênios que não subia na balança. Pra quê? Eu tinha jogado a toalha mesmo, largado mão. Eu tinha resolvido que ia ser gorda e pronto. E realmente teria continuado naquela vida de comilança absurda, não fossem as conseqüências.
Andar tava difícil. Eu não agüentava carregar meu próprio peso. Pra 1,63cm... Meu joelho começou a reclamar também. Lembrei de pessoas muito mais obesas que eu, que havia encontrado em spa. Lembrei de como eu pensava: "Elas são tão grandes que os joelhos não agüentam. Eu não sou assim". Olha que tremendo tapa na minha cara. Quando meu joelho falou "pára, não agüento mais", eu sabia que eu tinha chegado naquele ponto-limite que jamais imaginei chegar. Agora eu era igual a eles... Aqueles que eu achava diferentes de mim! Mil outras sirenes no meu corpo começaram a apitar também. Resumo dessa ópera bufa é o seguinte: ali eu aprendi que mesmo que você decida que vai viver uma vida de comilança, você não pode, porque vai chegar um momento em que essa vida se tornará cada vez mais difícil. Dito de outro modo, o viver começa a virar outra coisa...
Deixa de ser viver.
Procurei um cardiologista. Na lata, ele me disse: "Você quer morrer"?
Outro tapa na cara, só que esse doeu mais, doeu feio. Me dei conta de que meu plano de uma vida "feliz" de comilança tinha dado errado. Tive que me mexer -- e me mexi. Comecei fechando a boca e reativando a minha esteira jurássica. Precisei chamar a manutenção do fabricante em casa, porque nem funcionava mais. Voltei a comprar as revistas Boa Forma, Corpo a Corpo e Dieta Já -- que era praticamente nova. Comecei a usar a internet pra me informar sobre os últimos debates, as principais dietas do momento -- Atkins, South Beach, The Zone. Cheguei a ler debates longuíssimos sobre os prós e contras das três entre os próprios médicos autores das dietas, tudo publicado pelo Departamento de Agricultura americano. Eu fiquei tão "sumidade" no assunto que minha mãe chegou a sugerir que eu fizesse faculdade de Nutrição.
Foi nessa época que achei o blog da Larissa, depois da Lu Russa, da Liliana e da Paula -- que nos meus favoritos era "Paula Suquinho". rs Nessas alturas, eu nem imaginava fazer blog porque tava indo muito bem na minha perda de peso, mas lia todas religiosamente. Não comentava muito porque sempre fui uma pessoa mais na minha -- eu sei, que mudança, não? rs Mas apesar de comentar pouco, cheguei a trocar alguns emails com a Larissa e com a Paula usando meu nome verdadeiro -- prova cabal de que eu não tinha a menor intenção de virar blogueira. rs Nunca fui a nenhum encontro light, embora elas estivessem quase sempre num shopping perto de casa.
Achava a
Larissa muito corajosa, mas como tomou pau, hein? Afe. A
Lu Russa eu achava uma audaciosa de mão cheia, ô mulherzinha precoce! rs Com ela eu troquei apenas um email, também com meu nome verdadeiro, mas isso já foi esse ano, meses antes de começar esse blog. Minha resposta pra ela tá até hoje na minha pasta "rascunho"... o_O Preciso mandar, que horror, que feio! rs A
Liliana é très mignon com uma história que me encantou. D'ailleurs, elle habite sur le pays des merveilles! ;) Gostava de ver não só o que ela comia, mas os lugares todos. Uma festa pros olhos! E os desafios? O máximo. E a
Paula eu lia pra saber quantos suquinhos de laranja ela tinha tomado. rs Mentira... ;) Fiquei triste quando ela fechou o blog, mas feliz ao mesmo tempo, porque cada um sabe de si. Eu como não tinha blog, acho que facilitou entender a decisão dela.
Cheguei, assim, aos 75kg. Sozinha -- mas não totalmente, como acabei de dizer. Na verdade, foram 21kg que eu perdi, né? A leveza e os reflexos excelentes na minha saúde -- reduções de colesterol significativas -- me deixaram muito feliz. E ENGORDEI TUDO OUTRA VEZ. Por que será? Vou deixar esse pergunta no ar por enquanto.
O regime anterior a esse foi de spa, em 2000, portanto eu ainda não tinha chegado nos 30. Aquela foi minha terceira e última internação -- porque é essa mesmo a palavra que eles usam, somos todos pacientes. Eu chegava ali com 88kg depois de uma tempestade de vida que não acredito passar por outra igual. É muito pessoal, muito doído e não dá pra contar. A mais remota lembrança disso só pra escrever essa simples frase me vira e me mexe. Vamos resumir assim: EU NÃO MORRI.
Então, chego no spa com 88kg. Perdi 13kg em dois meses. Mas difícil não descreve o que foram aqueles dias. 300cal por dia não eram nenhuma novidade pra mim, meu corpo já conhecia, mas de repente "recusou". Eu não saía da cama. Chorava copiosamente. Não me reconhecia. Sei lá, deu um tilt. E a perda de peso? Lenta. Foi tão uó o negócio que, apesar de eu ser uma paciente pagante, ameaçaram me expulsar de lá. Achavam que eu tava fazendo doce! Acho que staff de spa já viu tais absurdos (leite condensado no vidro de xampu, essas coisas) que fica difícil pra eles acreditarem quando tem alguma coisa errada de verdade com algum paciente. Eventualmente, viram que eu não tava fingindo porr4 nenhuma e aí os próprios médicos não viram outro jeito senão me colocar no "privilegiado" grupinho de 600cal -- e só assim comecei a perder peso. Mas
nunca paguei tão caro pra sofrer tanto -- fora a humilhação...
Fato é que uma fórmula que tinha funcionado até ali pra mim simplesmente deixou de funcionar. Foi bom até, porque senão eu teria me tornado a típica paciente compulsiva de spa. Não se enganem, isso existe. Vira hábito. É assustador? É. Mas existe, viu? As pessoas simplesmente voltam todo ano e deixam de passar férias em lugares lindos pra ficarem presas lá dentro. Não podemos esquecer que um spa é um negócio como qualquer outro. E desse lado do business ninguém fala, porque não é politicamente correto...
Bem, saí de lá um trapo, mas um trapo magro! 75kg. Podia ter perdido mais, é claro, não fosse a fórmula ter dado errado. Mas tinha chegado no dígito 7! E, melhor ainda, tava incrivelmente perto do dígito 6! Eu podia alcançar, finalmente, uma faixa de peso que eu não conhecia desde a adolescência. Eu tava muito feliz, apesar de tudo!
Fui procurar um cirurgião plástico -- aliás, um que dava palestras lá no spa, porque eu não conhecia nenhum outro. Consultório perto de casa. Ótimo! Fui muito sussa na reputação do médico pelo histórico dos próprios operados lá do spa. E muito animada, porque tava crente que ele me operaria. Eu tava magra! Nunca me senti tão magra. Mas por que eu queria fazer plástica? Ah, teve outra novidade desagradável aquela internação pra mim: além da fórmula ter deixado de funcionar, também foi ali que eu vi no espelho, pela primeira vez, o que é a força da gravidade. Minha barriga subiu no telhado. o_O Sabe o que é você não ter nem 30 anos, nenhum filho, e ter de se deparar com essa imagem de você mesma? Jovem, linda, magra, mas com um corpo que parece ter sofrido as batalhas de uma guerra! E isso num tempo em que não se desfilavam pessoas gordas em reality shows. Não é uma imagem muito fácil de se olhar no espelho, não. Era
pior do que me ver gorda.
Ele me levou pra uma salinha contígua fechada por porta de correr, enquanto minha mãe esperava à mesa dele. A porta ficou entreaberta. Eu com aquela camisolinha de médico, só de calcinha. Minha mãe entreolhando pela abertura que ele tinha deixado. Quando ele levantou a camisolinha pra examinar minha barriga, minha mãe virou o rosto. Não existe outra palavra pra descrever o que eu senti naquele momento: foi uma facada certeira no meu coração, aquele tipo de tristeza que bate fundo e parece que cobre você inteira numa fração de segundo, pára na garganta e te sufoca. O médico é médico, já tinha visto de um tudo, é claro, super carinhoso, de fala mansa, toque gentil, carinhoso, profissa. Mas ali eu quis sentar e chorar. Só.
Me vesti. E aí de volta à mesa dele, veio o veredito: "Você precisa perder mais uns 8kg, aí eu te opero". Pronto. Foi ali mesmo que eu perdi a batalha.
MAGRA, meus senhores! Mas e o resto? Depois de tudo o que eu tinha passado nos últimos dois meses no spa, já vindo de uma tempestade dessas que definem se você vai ou fica, eu não tava simplesmente fragilizada ou sensível, eu tava, sim, em frangalhos. Foi uma derrota anunciada. Quando eu ouvi 8kg, pensei: "Mas isso é praticamente o que eu perdi no spa! Não vou conseguir"! Se tinha perdido 13kg em dois meses, à base de ínfimas 600cal/dia, quanto eu demoraria pra perder os 8kg que ele queria aqui fora, no "mundo real"? Não existe 600cal em casa. Os próprios médicos do spa te dão alta com dieta de 800cal, pra fazer "manutenção" -- que piada. Quanto tempo mais eu teria que sofrer? Dois meses é que não seriam! Precisaria de muito mais. Três? Quatro? Cinco meses? Eu não agüentava mais sofrer. Voltei pra casa resignada. Minha mãe não entendeu até hoje o que aconteceu. Como eu cheguei tão perto e, no entanto...
Voltei pra minha vidinha normal. Início de 2001. Eu precisava recobrar minhas forças, só não sabia ainda como. Eu tinha conhecido um cara pela internet, tava apaixonada. Era amizade antiga, já, e tinha virado romance depois de alguns anos. E eu assim... Numas, sabe? Head over heels, ma non troppo -- ou, como boa libriana, cabeça nas nuvens, mas o pé no chão. rs Um dia ele vira pra mim (isso em 2000) e diz que quer vir pra cá, vamos fazer isso direito, tá de bom tamanho, eu gosto de você, blá, blá, blá... E eu: "Tá bom, uai! Vamos combinar". Aí combinamos. E o aquariano assim: "Quero conhecer sua família, quero que você conheça a minha"... E eu: "Nossa, ele já tá colocando até família no meio? Será que esse negócio é sério mesmo"?
Eu segurava a carruagem por vários motivos. Um dos principais é que ele vinha da gringolândia -- como diria o saudoso
David Zingg. E pra quem não sabe do que eu tô falando, isso quer dizer americano. Outro motivo importante é que nós éramos amigos, então eu o conhecia bem, sabia quais eram seus pontos sensíveis e relacionamento não era exatamente o forte do rapaz. Mas, realmente, ao longo de uns três anos de amizade (e romance), a gente tinha desenvolvido uma proximidade absurda. Me fiei nisso. Ver no que dá.
Ele veio, em abril de 2001. Nunca tinha viajado pra outro país sozinho -- só com a família pra Israel, porque são de lá. Ficamos só uma semana juntos -- que, por sinal, passou rápido demais --, mas ele não queria esperar mais e era o que dava pra fazer por causa do trabalho dele. Tinha juntado a grana pra vir e não tinha sido fácil -- vendas, comissão, sabe como é. Enfim, era de uma querência tamanha aquilo tudo da parte dele que não deu pra resistir. Quando ele voltou pra casa, então, parecia mais apaixonado ainda -- e eu, idem! Uma saudade que... Subindinho pelas paredes mesmo, os dois.
"Agora é sua vez, você precisa vir! Todo mundo quer te conhecer". Na época, eu era autônoma, ganhava pouquíssimo dando aulas de inglês. Eu sabia que isso podia dar problema, mas fui na fé, preferi confiar em Deus acima de tudo. Só não esperava o 11 de setembro... o_O Mas ele me segurando, pedindo, querendo, me encorajando, dando força. Apaixonado! Família! Então, coisa de seis meses depois do famigerado ataque, eu fui. Fui enfrentar a fila, o vidro. Achava que a tragédia já tinha passado. E ele, idem. Mas é óbvio que voltei de passaporte na mão, intacto. Mas não só ele... Meu coração também tava na mão, só que em mil pedacinhos.
Não me lembro de ter chorado tanto quanto naquele dia por qualquer outro cara. Liguei pra minha mãe desesperada, chorando um rio todo, achando que ela poderia mexer uns pauzinhos -- connexions. Mas não teve jeito. Aí tive que ligar pra ele pra dar a má notícia. Chorei mais um rio caudaloso. E foi nesse telefonema que aconteceu o que eu tanto temia: falou mais alto nele uma daquelas fraquezas.
Nós dois sabíamos que não teria jeito de eu aparecer em solo americano tão cedo. No mínimo, eu teria que esperar mais seis meses pra tentar de novo -- procedimento padrão, e foi o que me disseram educada e friamente por detrás do vidro à prova de bala. Eu não podia me ver passando por aquilo de novo, a tristeza, a humilhação -- perceberam o flashback do cirurgião e do spa?... o_O Eu tava apaixonada. Naquelas alturas, já não tinha mais segurar de carruagem porr4 nenhuma. Eu queria estar com ele, ponto!
Nós dois sabíamos qual seria a solução. Se a gente quisesse ficar junto, mesmo, pra valer, ele sabia que ele teria que voltar e me assumir. Detalhe: o irmão dele casou com uma canadense que conheceu pela internet. O que eu esperava dele?... Mas, não... Em vez disso, entra em cena uma fraqueza que eu sabia que ele tinha. Vendo a responsabilidade toda do futuro da relação nas mãos dele, ele não teve maturidade pra tomar as rédeas da situação e recuou. Acabou tudo naquele telefonema. E eu acho que não preciso dizer mais nada. Depois desse dia, eu só fiz uma coisa: COMER.
É claro que, como diz o ditado, hindsight is 20/20. Olhando em retrospecto, óbvio que hoje eu sei que ele não gostava de mim o suficiente e ponto final. Imaturidade e insegurança vieram à tona naquele momento, sim, mas foram manifestações apenas. No fundo, no fundo, eu sei bem, hoje, o que aconteceu ali. E tudo bem. Eu tinha deixado nas mãos de Deus, não tinha? Não era pra ser. Seis anos depois, eu posso dizer isso com muita calma e segurança. Foi uma história. Mas acabou com a colher no pote de sorvete. Um baque depois do outro e do outro e eu ainda precisando me recuperar. Como? Onde? Com quem? É aquela mesma história que se repete. Por fora, magra. Por dentro, em frangalhos.
E assim eu fui engordando, engordando, engordando. Já tinha também desacreditado geral nesse lance de amor. Aquele emprego ruim que eu detestava com mais ardor a cada dia. Amava os alunos, amava ver o progresso deles. O resto? Esquece. As outras pessoas? Socorro. E o tempo passando, os trintinha chegando. Pressure, pressure, pressure. Atoleiro. Vidinha besta. Só o sorvete salva, aleluia! Eu precisava decidir que rumo tomar e logo nas duas frentes de uma só vez, na pessoal e na profissional. Foi aí que eu joguei a toalha e assim, lentamente, cheguei aos 96kg do começo dessa história.
Mas vocês vão se lembrar que eu saí dessa. Deus é mais. Tudo em mim começou a doer. Cardiologista. "Você quer morrer"? Daí eu decidi que não -- apesar da total falta de rumo. Achei que Deus me apontaria um rumo. Me faria ver, de novo, por que vale a pena viver. Mais do que isso, por que
EU deveria
HONRAR a vida que me foi dada. Suei e perdi, sozinha, os 21kg que já contei. De 96kg, fui pra 75kg. Me sentia linda e leve. E isso mesmo sem ninguém ter notado. o_O
Não tinha grana pra desbundar numas de "perdi 21kg, sou uma nova mulher". E, francamente, nem tinha auto-estima pra isso. Meu corpo, eu sofria ao vê-lo no espelho. Aquele corpo do "campo de batalha". Apesar de me sentir bonita por fora, com aquela imagem que todo mundo vê, eu SABIA qual era a imagem na frente do espelho -- e isso, só eu conhecia. Era uma nudez dupla: de um corpo nu escondido e de um emocional se recuperando, mas ainda frágil, e por isso também escondido. Continuei, portanto, usando as mesmas roupas, tudo com elástico, camisetas.
Não só as roupas me escondiam, eu me escondia. No fundo, ainda me sentia doída por dentro e até mesmo não merecedora do meu próprio sucesso. O próprio fato de ninguém falar nada, de eu não ter recebido nenhum elogio, alimentou isso. O ceticismo e a indiferença não de qualquer um ou de um estranho na rua, mas dos mais próximos! E como é que eu podia culpá-los? Simplesmente não podia. Afinal, eu era a sanfona de uma vida inteira. Três vezes em spa. Não dava. Embora eu jamais tivesse perdido tanto peso, ficou assim:
solitário e no silêncio.
Mas eu me sentia bem e viva o suficiente pra começar a arrumar pelo menos o profissional. Engatei uma pós, mas logo vi que não deveria voltar ao passado. Um título bonito nem sempre é progresso na vida da gente, mas cai bem pra nossa mãe guardar na gaveta e comentar com as amigas. rs Comecei a contemplar alguns concursos públicos, mas ainda não me achava. É que aqueles concursos me ofereciam empregos, mas não uma nova carreira, nada que me impulsionasse. Até que uma conversa com uma amiga me acendeu uma luz e me deu um estalo. Ela, me conhecendo muito bem, sugeriu um concurso que eu sequer sabia que existia. E esse vinha com carreira! E tinha tudo a ver comigo! Como é bom ter uma amiga que nos conhece tão bem ou ainda melhor que nós mesmas! :)
Fui me informar melhor e caiu como uma luva. Uma carreira que eu nem sabia que era carreira! rs Entrei num cursinho preparatório. Caro. Difícil. E o concurso, idem. Tinha assuntos ali que eu não sabia nem o bê-a-bá -- Economia, por exemplo. Foi aí que, caro por caro, decidi estudar esses assuntos direito (e não em apostila de cursinho) e comecei uma nova faculdade em 2007. Comecei a aprender outra língua. E aí, então, o profissional tava encaminhado.
Novo ambiente, novas pessoas, de volta a uma universidade 15 anos depois da minha primeira graduação. o_O Desafio total! Muito estudo, mas também muita energia e entusiasmo. Um ano, tudo lindo. Dois anos, idem! Três anos e eu começo a sentir falta de uma vida adulta, de uma vida pessoal, de conversas adultas, de beijo na boca, de amor, de aconchego, de dividir, de dar risada junto, de sair, de ter amigos da minha idade, de ter uma vida além de casa/faculdade, de tudo.
Isso começa a me abater e me desanimar seriamente. Nessas alturas, eu já tava pesando 85kg, ou seja, já tinha achado de volta exatos dez. E percebi? Não! Olha o guarda-roupa maldito: elástico e camiseta! Corro pra uma terapia. Não tenho um real furado, mas vou, porque não posso cair e não vejo pra que lado correr, com quem contar. E a terapia não ajuda. E o dinheiro acaba. Mas, principalmente, a terapia não ajuda. E nem poderia! Não, assim, a curtíssimo prazo, simplesmente impossível.
Eu tive que engolir a seco. Não teve outro jeito. Levanta o queixo, acorda todos os dias, sublima, lembra dos seus objetivos! Nesse meio tempo, tive mais uma surpresa desagradável (acadêmica) que simplesmente anulou um dos meus objetivos. Aí é que a ausência de uma vida adulta e pessoal pesou ainda mais. Parênteses: "careful what you wish for" é um ditado muito sábio.
Uma falta é uma falta é uma falta. Quando um lado da sua vida tá no chão e o outro no céu, e mesmo que você ache que tá tudo bem, isso não fica assim por muito tempo. Se você não trata de compensar os desequilíbrios com a devida calma, sensatez e serenidade, eles mesmos tratam de fazer o ajuste de contas por você. E foi exatamente assim que no espaço de um ano... Não fosse a calcinha apertar, o joelho gritar de novo, não fosse eu subir na balança só de curiosidade!...
E pela segunda (E ÚLTIMA) vez na vida, eu me vi com 96kg.
O SILÊNCIO ACABOU.
Desabrocharam de dentro de mim outras coisas que eu nem sabia que existiam, mas estavam esperando exatamente por esse momento. Elas foram sufocadas por tempo, pessoas e coisas suficientes. Simplesmente vieram à tona, como uma primavera dentro de uma caixa, cultivada no silêncio, esperando o momento exato de ir de encontro ao sol. Olhem pra esse blog. O que são essas cores? Da onde elas vieram? O que são essas palavras? O que são os meus comentários nos blogs dos outros? São exatamente os mesmos que eu deixava anos atrás. No tom, eles não mudaram em nada. Sempre fui afetuosa, pra cima. E respeito, especialmente com quem não conheço. É na intensidade que eles mudaram. No brilho. Na energia. Na alegria de pontuar cada frase com rs -- riso solto! Mas nada ficou perfeito da noite pro dia. Absolutamente NADA. Foi o tempo? É isso que se chama crescer?
"Não sei, só sei que foi assim". ;)
Este post deveria ter sido o primeiro, mas tava sendo cultivado também -- nas panelas, nas virtuosas, nas
Jus, e ainda nas inspirações de tempos atrás... Coincidência ou não, vem hoje, exatamente dois meses depois do início deste blog, no dia 09/09/09.
ACABOU O SILÊNCIO.